Internet devagar, quase parando.

 

Apesar de contar com o quinto maior contingente de usuários do planeta, o Brasil segue com uma velocidade média de conexões de internet baixa. Levando em conta somente os dados de banda larga, os mais de 67 milhões de acessos únicos do país são feitos a uma velocidade média de 2,6 megabits por segundo (Mbps), o que rende ao Brasil a 87.ª internet mais rápida do mundo, atrás de países como Equador, México, Colômbia, Cazaquistão e Iraque. O levantamento é da empresa americana de segurança de internet Akamai e as informações foram levantadas ao longo do primeiro trimestre de 2014.

INFOGRÁFICO: Veja dados sobre a internet no mundo

No celular

Internet móvel é a quarta mais lenta entre os países pesquisados

Além das conexões de banda larga fixa, o estudo também faz uma sondagem sobre a velocidade da internet nas redes 3G e 4G dos celulares. Segundo o relatório, os brasileiros acessaram a web no celular com velocidade média de apenas 1,2 Mbps – a quarta pior posição entre quase 60 países pesquisados pela Akamai. O país só ficou na frente dos vizinhos Argentina e Bolívia e do Vietnã.

A líder, mais uma vez, foi a Coréia do Sul, com uma velocidade média de 14,7 Mbps. O levantamento dos acessos móveis, no entanto, são menos detalhados e contam com uma amostra menor do que a pesquisa de conexões de banda larga.

A pesquisa também mostra que a baixa velocidade da banda larga móvel faz o brasileiro esperar em média 12 segundos para que uma página de web seja carregada por completo no celular. No caso do computador, o brasileiro precisa esperar, em média, seis segundos para ver uma página de web.

O resultado brasileiro é 33% inferior à velocidade média mundial, de 3,9 Mbps, e quase dez vezes menor do que a Coréia do Sul, líder do ranking, com 23,6 Mbps de velocidade média. Para piorar, o país não tem conseguido acompanhar o ritmo de evolução do restante do mundo na qualidade da internet. Esta é a terceira sondagem seguida que o país cai posições no ranking de velocidade das conexões – há um ano, o Brasil era 73.º, com a mesma velocidade média de hoje. Neste período, países como Peru, África do Sul e China conseguiram melhorar a qualidade dos seus acessos e ultrapassaram a velocidade média brasileira.

Segundo o diretor de canais e programas da Akamai para a América Latina, Jonas Silva, os números brasileiros ainda são ruins porque o país está em processo de inclusão digital. “O número de conexões cresce mês a mês em um ritmo bastante acima da média mundial. A maioria destas novas ligações tem velocidade baixa, o que faz o país cair no ranking global”, explica.

O país é, de fato, um dos que mais teve crescimento na sua base de internautas, com um aumento anual acima dos 10% – dos países com mais de 20 milhões de acessos, somente Brasil e China mantém um crescimento na casa dos dois dígitos.

Estagnação

Para o consultor Aldo Santini, da DataSensor, empresa que monitora o volume de acessos em todo o mundo, o aumento acelerado na quantidade de acessos não justifica a estagnação da velocidade. “Seria natural um ritmo mais lento na velocidade média, mas teríamos que apresentar crescimentos mais expressivos, também, no número de acessos de alta qualidade e na média de velocidade dos picos, o que não acontece. A China cresce tanto quanto o Brasil e consegue melhorar seus números”, afirma.

Os dados da pesquisa comprovam este crescimento modesto. Enquanto 21% das conexões de todo o mundo são de planos de mais de 10 Mbps, no Brasil apenas 1% dos usuários têm acessos neste patamar.

O mesmo se verifica no pico das conexões. A média mundial é de 22 Mbps, com um crescimento anual de 13%, e a marca brasileira é de 17,9 Mbps, mas com um crescimento de 0,3% nos últimos doze meses. “Isso só evidencia o quão defasado maior parte dos acessos brasileiros ainda está na comparação com o resto do mundo”, completa o professor de ciência computação da USP, Roberto Kalil.

Estrutura insuficiente derruba qualidade

O apetite por uma base de clientes ainda maior é o principal problema apontado por especialistas para que a conexão brasileira se mantenha lenta. Com redes sobrecarregadas, as velocidades entregues pelas operadoras ficam bastante aquém do que é contratado pelo usuário.

“A situação é a mesma das operadoras de telefonia móvel. As empresas vendem mais planos do que conseguem atender e a velocidade e qualidade dos serviços ficam prejudicadas”, afirma o professor de Ciência da Computação da USP, Roberto Kalil. As operadoras se defendem e explicam que isso se deve ao fato de não terem controle sobre oscilações na rede. “O que é uma meia verdade. Se a estrutura instalada fosse suficiente, todos os planos seriam atendidos dentro de uma variação razoável.”

Rigor

A oscilação é tamanha que desde o ano passado a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) endureceu os limites mínimos de entrega de serviços contratados nos planos de internet.

Atualmente, a velocidade mínima que as operadoras precisam entregar é de pelo menos 30% do contratado em 70% do tempo e em novembro deste ano as margens de variação terão que ser ainda menores: segundo o órgão regulador, as empresas terão de oferecer pelo menos 40% da velocidade contratada em 80% do tempo de conexão.