Após seis quedas de ministros, Dilma diminui ritmo de faxina.

Brasília - O decorrer das últimas três crises que levaram a demissões de ministros mostra um arrefecimento no modelo de “faxina” da presidente Dilma Rousseff. Enquanto as mudanças no Mi­­nistério dos Transportes levaram a quase 30 exonerações na pasta, os cortes foram suavizados durante as trocas de co­­mando no Turismo, na Agricul­tura e, a princípio, no Esporte. Em nenhum dos casos houve uma ruptura drástica na divisão de espaços no primeiro es­­calão entre os partidos aliados. Envolvido em denúncias de suposto superfaturamento de obras, recebimento de propinas e aparelhamento partidário, Alfredo Nascimento foi substituído em julho por Paulo Passos nos Transportes. Apesar de ser filiado à legenda do antecessor, o PR, Passos possui um currículo mais técnico – é servidor pú­­blico da área de planejamento e fez carreira no ministério desde 1973. Além disso, foram demitidos diretores dos dois principais órgãos da pasta, o Depar­tamento Nacional de Infraes­trutura de Transporte (Dnit) e a empresa estatal de obras ferroviárias (Valec). PMDB O estilo da “limpa” começou a sofrer alterações com a troca de Wagner Rossi por Mendes Ri­­beiro, ambos do PMDB, na Agri­­cultura. O ministério foi alvo do mesmo tipo de denúncias dos Transportes, mas Dil­­ma cedeu às pressões da cúpula peemedebista. Em vez de um técnico, nomeou um político que nunca trabalhou com agricultura. Ao assumir o cargo, Mendes Ribeiro chegou a dizer que teria carta branca para modificações. Até o momento, a única alteração expressiva foi a escolha de José Carlos Vaz para o lugar de Milton Ortolan. A es­­trutura da Companhia Na­­cional de Abastecimento (Co­­nab), foco das acusações, permanece. Maranhão No Turismo, o cenário foi pa­­recido. Dilma trocou um deputado federal maranhense por outro (Pedro Novais por Gastão Vieira), os dois sem trajetória no ramo. Vieira demitiu dez funcionários comissionados, contratou cinco, e tentou emplacar um aliado da família Sarney na secretaria-executiva da pasta. Acabou optando pelo Secretário da Fazenda do Distrito Federal, Valdyr Simão, de perfil mais técnico. Por último, a presidente se­­guiu a demanda do PCdoB ao nomear Aldo Rebelo para a vaga deixada por Orlando Silva no Esporte. Apesar de ter sido presidente da Comissão Parla­mentar de Inquérito (CPI) da CBF-Nike, entre 2000 e 2001, Aldo tem pouco conhecimento técnico da área. Por enquanto, há apenas uma mudança confirmada – a saída do secretário-executivo Waldemar Souza, do PCdoB do Rio de Janeiro. Efeitos Professor de administração pú­­blica da Universidade de Bra­­sília, José Matias Pereira avalia que as escolhas políticas estão se tornando cada vez mais nocivas para o funcionamento da máquina estatal. “É importante não só que um ministro entenda da área de atuação da sua pasta, mas se cerque de um corpo técnico de alto nível. Do jeito que está, a imagem do serviço público fica cada vez mais desgastada: ninguém sabe quem é funcionário e quem é político”, diz. Para o cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo (Insper) Carlos Melo, as últimas mudanças feitas por Dilma mostram que o sistema de divisão de cargos entre aliados políticos caminha para o “colapso”. “O presidencialismo de coalizão não suporta uma base tão grande e com tanta gente querendo espaço. O jogo recomeça do zero ou a situação vai ficar insustentável”, afirma Melo. Fonte: Site; Gazeta do Povo, (03/11/2011).