Um terço da colheita do PR ainda é exportado sem processamento.
A agroindústria do Paraná se expande, mas ainda não dá conta de agregar valor à pauta de exportações do estado. De acordo com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), de 30% a 40% da produção paranaense de soja é embarcada na forma in natura, índice que dá uma dimensão do crescimento possível da industrialização do agronegócio local. Além de acordos internacionais, investir no atendimento do mercado interno e desenvolver agroindústria familiar são caminhos apontados por analistas para garantir esse crescimento. “O Paraná comercializa um grande volume de soja em grão. É preciso agregar valor a essa produção”, assinala o coordenador da Câmara Setorial de Agroindústria e Alimentos da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Joaquim Cancela Gonçalves, que considera também a necessidade de maior diversificação. “Temos potencial para industrializar a produção de mandioca e de trigo”, cita. Para a economista Júnia Peres, do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea), a substituição, na pauta de exportações, de produtos primários por itens processados impulsionaria a agroindustrialização. Todavia, a atual conjuntura não indica que seja uma medida simples de se concretizar, ao menos num prazo mais curto. “Com essa crise, as incertezas... não é o momento”, afirma. Em sua avaliação, não há “ambiente” para o país se impor, exigir que a China – principal comprador da soja brasileira – troque as commodities por produtos de maior valor agregado. “Apesar da crise, a China mantém sua demanda, mas o risco de ela se retrair, existe. Além disso, as relações comerciais entre os dois países são baseadas na atual pauta, os contratos são assim, não tem como mudar de forma imediata, tem que cumprir esses contratos”, salienta a pesquisadora. Mercado interno Dessa forma, de acordo com Júnia, procurar abastecer o mercado nacional é a alternativa mais viável à expansão da agroindustrialização. Opinião semelhante é a do agrônomo Gérson Teixeira, pesquisador em economia agrícola, ex-presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra). Teixeira também defende a inclusão de propriedades rurais familiares nesse processo de industrialização da agricultura. “As políticas públicas de incentivo, no entanto, não devem buscar repetir na agricultura familiar o modelo do agronegócio, focado em poucos produtos e na exportação. É outro perfil. A agroindústria familiar deve ser diversificada, mas voltada à produção de alimentos, e direcionada ao mercado interno”, aponta. Entre os exemplos de êxito, ele cita a Cooperativa de Comércio e Reforma Agrária Avante (Coana), de Querência do Norte. A empresa produz derivados de leite (20 mil litros/dia), como queijos, manteiga, leite empacotado e iogurte; e arroz polido e integral (até 40 t/dia). Crescimento esbarra na infraestrutura Se o cenário internacional de crise econômica preocupa, mas sem abalar o otimismo, os chamados “gargalos” da infraestrutura nacional, esses sim são inibidores de investimentos na industrialização do agronegócio paranaense e brasileiro, avaliam os economistas Eugênio Stefanello e Luiz Antônio Fayet. “Mesmo que nossas cooperativas tivessem taxas de investimento em industrialização ideais [em torno de 15% do seu faturamento; hoje é de 3%], não haveria condições para o escoamento de sua produção”, assinala Stefanello, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Fayet, que é consultor da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), diz que “o Brasil vive um colapso portuário”. Ele cita a precariedade da cabotagem (navegação entre portos de um mesmo país), sistema que poderia ser utilizado para o escoamento da produção entre os extremos do território nacional. Mudanças na legislação portuária e no modelo de concessão de ferrovias e rodovias; e ainda a redução da tributação dos investimentos são medidas imprescindíveis para dotar o país de infraestrutura que viabilize o crescimento da economia, aponta Fayet. Fonte: Site; Jornal Gazeta do Povo, (06/12/2011).