Mesmo com novos incentivos, Fies ainda tem baixa adesão.
Lançado em 1999 como alternativa aos alunos que não têm condições de arcar integralmente com as mensalidades das universidades privadas, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) ainda sofre com a baixa adesão do público que deveria atender. Embora o Ministério da Educação (MEC) tivesse crédito disponível para assinar 400 mil novos contratos nos últimos dois anos, somente 225 mil financiamentos foram efetivamente contratados no período. A falta de interesse resiste mesmo após facilidades implantadas recentemente, como a possibilidade de determinados alunos não apresentarem fiador e de professores da rede pública de educação básica abaterem e quitarem o financiamento com o trabalho. Além disso, em 2010, a taxa de juros baixou de 6,5% para 3,4% ao ano, com a ampliação do prazo de quitação do empréstimo. Para o MEC, as mudanças devem enfim angariar mais estudantes para o programa, mantendo o aumento no número de contratos observado nos últimos anos: em 2009, foram feitos apenas 32 mil financiamentos pelo Fies, número que subiu para 75,8 mil em 2010 (aumento de 136%) e 149 mil no ano passado. Além dos acadêmicos, porém, o governo federal precisa convencer as instituições de ensino, que no segundo semestre do ano passado registraram atrasos constantes no recebimento dos repasses mensais do Fies – segundo a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), o total de valores pendentes chegou a mais de R$ 500 milhões no fim de dezembro, em todo o país. Não bastassem as críticas quanto à demora no envio dos recursos, os valores são repassados em títulos da dívida pública, que precisam ser utilizados especificamente no pagamento de tributos ou revendidos à União. Os entraves na utilização dos recursos tornam o “negócio” pouco atraente para parte das faculdades, dos centros universitários e das universidades. De fato, o número de mantenedoras vinculadas ao Fies diminuiu nos últimos anos: em 2005, eram 1.133, enquanto atualmente 989 instituições participam do programa. “O Fies vem cobrir uma lacuna, ao auxiliar as pessoas que não têm a menor condição de disputar uma vaga numa universidade pública e teriam dificuldade em pagar a particular”, avalia a presidente da Fenep, Amábile Pacios. “Mas esperamos que o MEC cumpra com a promessa de atualizar os repasses e evitar atrasos. Sabemos que não falta dinheiro, e sim que é um problema de gestão”, completa. Desinformação Dos 399 municípios do Paraná, 54 apresentam instituições particulares vinculadas ao Fies, número que colocou o estado no topo do ranking dos que mais firmaram contratos nos últimos dois anos (veja infográfico). Dos 25 mil alunos de gradução da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), por exemplo, 2,3 mil pagam o curso por meio do financiamento. O diretor de Planejamento e Gestão Financeira da instituição, Marcelo Cichacz, reconhece, no entanto, que a adesão poderia ser maior. “O grande problema é a informação, que não chega ao aluno com facilidade e quando chega não é detalhada. Eu mesmo já fiz palestras em escolas onde os estudantes nem sequer sabiam que o Fies existia”, relata. Financiamento privado surge como opção Como alternativa ao Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), bancos e instituições financeiras privadas também oferecem linhas de crédito voltadas a alunos que queiram parcelar ou prorrogar o pagamento das mensalidades. Apesar dos juros, em geral, serem maiores e as opções de cursos mais restritas, a facilidade em ter acesso ao financiamento e os prazos de pagamento menores são as principais diferenças apontadas pelas instituições. Considerado o maior programa de financiamento privado do país, o crédito universitário Pravaler atende a 263 instituições de ensino em 23 estados brasileiros, contemplando cerca de 12,5 mil cursos. Pelo programa, o universitário parcela o valor das mensalidades e tem pelo menos o dobro do tempo normal para pagá-las – o primeiro semestre da faculdade, por exemplo, é pago no decorrer do primeiro ano de estudo. Os juros variam de 0% a 1,99% ao mês, dependendo da universidade e do curso. “Quando o aluno se forma, ele começa a ter outros tipos de dívidas. Então, se ele já possui alguma renda e consegue pagar parte da mensalidade, acaba optando por um financiamento em que amortiza a dívida no decorrer do curso, ao contrário do Fies, em que o débito fica todo acumulado para ser pago após a faculdade”, afirma o diretor de relacionamento da Ideal Invest, empresa gestora do Pravaler, Rafael Baddini. Fonte: Site; Jornal Gazeta do Povo, (16/12/2011).