Cooperativismo forma empresas multibilionárias.
Cinco cooperativas do Paraná faturam mais de R$ 2 bilhões por ano. Juntas, Coamo, C.Vale, Cocamar, Lar e Agrária detêm 41% das receitas do setor.
O cooperativismo agropecuário do Paraná passou longe do fraco crescimento econômico registrado pelo país no ano passado. O faturamento das cooperativas do estado cresceu 19% sobre 2011, atingindo a marca de R$ 38,5 bilhões. A cifra recorde tem lastro no desempenho das cinco cooperativas multibilionárias do estado. Juntas, Coamo (de Campo Mourão), C.Vale (Palotina), Cocamar (Maringá), Lar (Medianeira) e Agrária (de Entre Rios, distrito de Guarapuava) movimentaram R$ 15,9 bilhões, 41% da receita do cooperativismo estadual.
A atuação do grupo das multibilionárias, que passou a contar com a participação da Cocamar em 2011 e da Lar e Agrária no ano passado, está calçado nos bons preços das commodities e, principalmente, nos investimentos em industrialização. Esse processo, adotado mais fortemente pelas empresas nos últimos anos, amplia a linha de produção e agrega valor aos grãos entregues pelos associados.
“Estamos fazendo um trabalho muito forte para a agroindustrialização do setor como um todo. Essas cooperativas que faturam mais passam a ser modelo para que as demais entrem no processo”, afirma o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski. “O processo agroindustrial não está concentrado só nas cooperativas que faturam mais de R$ 2 bilhões”, aponta.
Cooperativas fornecem estrutura de armazenagem e facilitam negociação da produção.
As cooperativas do Paraná são as que mais industrializam a produção de seus associados. Hoje, 44% dos grãos passam por algum processo de transformação, dois pontos porcentuais a mais em relação ao índice de 2011.
Entre as 80 cooperativas agroindustriais paranaenses, a Coamo liderou com folga em 2012 ao alcançar receita de R$ 5,97 bilhões. A meta é atingir R$ 7,1 bilhões em 2013. A empresa adotou a industrialização nos mais diversos segmentos no início da década de 80. Desde então, não parou de investir na construção de fábricas.
Integração entre cooperativas e os produtores serve como escudo em momentos de crise, como é o caso da avicultura.
“Os produtos acabados representam um percentual importante da nossa receita e pretendemos aumentar essa fatia esse ano”, aponta o presidente da cooperativa, que ultrapassou a marca de R$ 2 bilhões de faturamento ainda em 2002, José Aroldo Gallassini. “Temos 40 obras em andamento e uma delas é a construção da fábrica de farinha de trigo com capacidade para processar 500 toneladas por dia”, complementa. A indústria deve ficar pronta no próximo ano ao custo de R$ 80 milhões.
Atuação ocorre em diversas instâncias, do plantio de grãos a produção leiteira.
Para Alfredo Lang, presidente C.Vale, segunda cooperativa que mais fatura no estado – ultrapassou R$ 2 bilhões em 2009 e chegou a R$ 3,22 bilhões em 2012 –, a industrialição fortalece a receita e contribui para reduzir os eventuais efeitos negativos do clima nas lavouras. “Nossas atividades são diversificadas. Temos grãos, frangos, leite, suínos, mandioca, máquinas e insumos agrícolas. Isso diversifica a receita”, diz.
A cooperativa da região Oeste do estado continua investindo nas suas indústrias. No momento, o objetivo é ampliar o abatedouro da marca de 320 mil frangos/dia para 400 mil até o final do ano. Outra medida é expandir a rede de supermercados da marca, com a inauguração de uma nova unidade em Palotina, sede da empresa, e aumentar a planta instalada no município de Assis Chateaubriand.
Expansão não representa concentração de renda, mostram números da última década
Nos últimos dez anos, a participação do grupo multibilionário na receita total do cooperativismo agropecuário paranaense diminuiu. Em 2002, as cinco cooperativas mais ricas faturaram montante de R$ 4,8 bilhões, o que representava 45% dos R$ 10,65 bilhões arrecadados pelo setor. No ano passado, o índice caiu para 41%, apesar das empresas terem ampliado as receitas em até três vezes na última década.
Produtos processados agregam valor a produção e geram ganhos para toda a cadeia produtiva.
“O crescimento do faturamento das grandes cooperativas não representa necessariamente concentração de renda. A cooperativa tem que refletir a somatória das economias individuais de seus associados. Pode ser pequena, média, grande e ser muito boa”, argumenta presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski.
Pioneira
No longínquo ano de 2002, a Coamo foi a primeira cooperativa do estado a assumir a categoria de multibilionária – com faturamento de R$ 2,27 bi. As outras empresas ainda tinham o status de milionárias. Quem mais chegava perto de ultrapassar a fronteira do bilhão era a C.Vale, que contabilizou R$ 844 milhões de receita.
Produção de grãos dos associados é processada nas próprias indústrias, para produção de ração e outros produtos.
Outra explicação para a “desconcentração” da receita do setor é o aumento do número de cooperativas no Paraná. No começo da década passada, 202 empresas faziam parte do Sistema Ocepar. Hoje, a entidade conta com 236 empresas associadas. O número chegou a 240 em 2011, mas foi reduzido em função de algumas fusões. “As pequenas crescendo devem ter participação maior, na medida em que entrarem melhor no processo de agroindustrialização”, diz Koslovski.