Suinocultura articula retomada.

 

A suinocultura paranaense espantou a crise dos últimos anos e começa uma retomada. Com plantel estável e aumento na demanda internacional, a carne está valorizada. As cotações do suíno de raça subiram 22% em um ano e no patamar acima de R$3 por quilo voltam a viabilizar a atividade no estado. Otimistas, os produtores retomam investimentos e traçam um prognóstico favorável para o resto do ano.

Após um período de desvalorização no ano passado, os suinocultores reduziram a produção, o que colaborou para estabilizar o rebanho estadual em 5,6 milhões de animais. “Desde 2012, muitas matrizes foram descartadas e não houve reposição. Temos uma situação de oferta e demanda bem ajustada e os preços estão bons”, indica o vice-presidente administrativo da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Jacir Dariva.

Outro ponto favorável ao setor é o aumento no consumo graças a Copa do Mundo, aponta o analista de mercado Carlos Cogo. Além disso, nos próximos meses a perspectiva é favorável para o aumento nas exportações devido a crises sanitárias, especialmente nos Estados Unidos. “A promessa é de um segundo semestre bom e já dá para falar em recuperação da suinocultura”, afirma.

O mercado norte-americano sofre com a presença do vírus da diarreia epidêmica suína (PEDv), que dizimou parte do plantel do país e resultou no fechamento de pelo menos 11 mercados, aponta o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Nesse contexto, o Brasil surge como alternativa ao mercado internacional, especialmente ao russo, fato que já reflete nos negócios. As exportações brasileiras devem fechar o mês com 39,2 mil toneladas embarcadas, maior volume do ano. A expectativa de faturamento com as exportações para junho também é recorde: US$ 163,1 milhões.

“O conflito da Rússia com a Ucrânia também influiu nesse aumento das vendas externas. Em três semanas, quase 10 frigoríficos brasileiros que estavam vetados pelos russos foram liberados”, explica Cogo. Sem a presença do rebanho norte-americano no mercado, a tendência também é de aumento das cotações internacionais dos suínos.

Cautela

O reaquecimento da suinocultura tem animado os produtores paranaenses, mas ainda há resistência para ampliar os planteis de porcos. Apesar de acreditar na sequência de valorização dos preços até o fim do ano, o produtor Armando Rabbers, de Castro, não pretende reforçar o rebanho neste ano. “Pretendo só investir em melhorias na criação”, diz.

Rabbers compra leitões da Cooperativa Castrolanda para engordá-los e vender aos frigoríficos. O preço de venda, atualmente em R$ 3,25 por quilo, supera o custo, estimado em R$ 3 por quilo em sua propriedade.

As margens de lucro dos produtores podem crescer nos próximos meses devido à previsão de queda dos preços do milho com a entrada da segunda safra. O cereal é o principal componente da ração dos animais. A boa remuneração, contudo, ainda não é suficiente para cobrir os prejuízos dos últimos anos. “O produtor sobrevive, mas ainda não cobre o rombo causado pela crise”, pondera Dariva, da APS.

Armando Rabbers, de Castro, decidiu investir em infraestrutura antes de ampliar o plantel

Brasil tenta abrir mercado, Sul pede certificação

Para garantir mercado à carne suína brasileira o setor também concentra esforços no aspecto sanitário. Na região Sul do país representantes e técnicos dos três estados articulam uma estratégia para obter a certificação internacional de área livre da peste suína clássica junto a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

Em reunião realizada ontem em Florianópolis, estratégias foram traçadas para formalizar o pedido em maio de 2015, quando a entidade passará a conceder o reconhecimento de ausência da doença. A expectativa é que a certificação abra mais espaço para a produção brasileira no mercado internacional.

No mercado interno o reconhecimento de área livre já existe desde 2010. A certificação foi dada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e inclui outros 12 estados. O Paraná, de acordo com a Associação Paranaense de Suinocultura (APS), não registra caso da doença há 20 anos.

A estratégia também passa pela abertura de novos mercados. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) indica que existem negociações avançadas para começar a exportar a carne suína local para o México e a Coréia do Sul.

No caso mexicano, está programado para o dia 29 de julho um encontro em Cidade do México para tentar agilizar as negociações. O ministro de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Neri Geller, e o Secretário de Relações Internacionais (SRI), Marcelo Junqueira, já confirmaram presença, e deverão se encontrar com o Secretário de Agricultura do país Enrique Martínez. No ano passado o país já havia liberado as aquisições de carne de frango, que já totalizam 3,5 mil toneladas nos cinco primeiros meses deste ano.

Consumo: Setor aposta em cortes especiais para estimular consumo

A suinocultura investe em novas ideias para promover a carne de porco e derrubar críticas corriqueiras à qualidade do produto, como o excesso de gorduras. Uma das apostas é o investimento em cortes especiais feitos a partir de porcos mais pesados. Na semana passada um encontro com diversas entidades do setor discutiu o modelo e avaliou quais são as vantagens da prática.

O pesquisador responsável pelo projeto de cortes nobres, Eduardo Alexandre de Oliveira, garante: peso maior não significa mais gordura na carne. “Esse é um medo dos produtores. A porcentagem de carne magra é maior e ela ainda fica mais avermelhada, o que significa uma qualidade melhor”, explica.

A iniciativa ainda sofre certa resistência no campo, conforme a Associação Paranaense de Suinocultores (APS), mas já é bem vista pela indústria. Para a gerente industrial do Frigorífico Bizinelli, Ana Lúcia Bizinelli Franco de Oliveira, suínos maiores também dão mais matéria-prima para a produção de embutidos. “É um trabalho de longo prazo, mas que as grandes redes de supermercado já estão adotando. Mas ainda estamos engatinhando para isso chegar à mesa do consumidor”, avalia.

O produtor Armando Rabbers ainda não aderiu ao modelo, mas avalia que a engorda prolongada dá rentabilidade à produção. “Economicamente é melhor. A indústria prefere para fazer linguiça, presunto e outros alimentos”.

5,6 milhões de animais compõem o plantel paranaense de suínos. O número tem ficado estável devido ao aumento no descarte de matrizes e garantiu o ajuste necessário na oferta para sustentar os preços.

R$ 3,11 por quilo foi o preço médio do suíno de raça no Paraná no mês de junho, conforme dados da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). Valor é 22% maior do que há um ano.

 Fonte: Jonal Gazeta do Povo

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