SC ultrapassa vizinhos em renda por hectare.

Os produtores de soja e milho de Santa Catarina têm bem menos área que os estados vizinhos, mas deixam os paranaenses e gaúchos para trás no faturamento por hectare cultivado. O menor estado do Sul brasileiro registra clima mais estável e torna a agricultura mais lucrativa com investimento em tecnologia. Conforme planilhas de fazendas de médio porte a que a Expedição Safra Gazeta do Povo teve acesso, o lucro líquido chega a R$ 1,8 mil por hectare no caso da soja e a R$ 1,7 mil no milho. Isso descontando insumos, serviços, depreciação do patrimônio e inclusive remuneração pelo uso da terra. No Paraná e no Rio Grande do Sul, em áreas de padrão similar, os produtores arrecadam entre 20% e 30% a menos, apurou a equipe de técnicos e jornalistas que percorre a região desde a semana passada. Para elaborar a comparação, a Expedição considerou áreas de 800 hectares e 1,3 mil hectares, que não são raras nos três estados. Ou seja, a renda média por hectare em geral é menor, uma vez que os custos normalmente são maiores entre os pequenos produtores, ainda em maioria no Sul do país. Os números mostram, no entanto, que Santa Catarina vem aproveitando seu potencial. Mesmo em áreas reduzidas, os catarinenses alcançam com facilidade 4 mil quilos de soja por hectare, relata o agricultor Valdecir Batistela, que cultiva 170 ha em Xanxerê.

Rotação
Revanche do milho sobre o feijão Santa Catarina está ampliando a área de milho em mais de 5% (para 580 mil hectares) e mantendo a da soja (em 460 mil hectares), conforme produtores, técnicos e analistas consultados pela Expedição Safra. Terras que serviam à pecuária e ao cultivo de batata estão sendo convertidas em lavouras de grãos no centro do estado, perto da divisa com o Paraná. Além disso, deve haver mudança na distribuição de espaço entre as culturas de verão. O cereal havia recuado na safra passada, principalmente na região de Campos Novos, e agora segue tendência inversa. “Estamos devolvendo ao milho a terra que usamos no ano passado para aumentar a produção de feijão”, relata o produtor Jean Paulo Almeida, que elevou o plantio do cereal de 60 para 215 hectares e manteve a área da soja em 415 ha. A produção de milho tende a chegar a 3,7 milhões de toneladas e a da soja a 1,45 milhões, em Santa Catarina. Ainda surpresos com os resultados de 2010/11, os agricultores não descartam redução. Depois de uma safra tão cheia, não é fácil sustentar os índices de produtividade, afirma João Padilha, que cultiva 130 hectares de milho e soja em Campos Novos. “Os investimentos em insumos são os mesmos, mas uma variação no clima é normal”, observa. (JR)
Enquanto o Paraná e o Rio Grande do Sul vêm enfrentando pelo menos uma quebra climática a cada cinco anos, o estado vizinho registra apenas perdas localizadas. Na região de Abelardo Luz (Oeste), os produtores contam que o clima tem sido favorável desde 1985. Com La Niña, El Niño ou regime de chuvas neutro, as precipitações chegam todos os anos e são bem distribuídas. Sem oscilações, sobra mais dinheiro para investimento em insumos, máquinas e silos. A produção de grãos se estruturou nas últimas quatro décadas no Oeste catarinense e chegou a um grau de profissionalização em que os produtores administram áreas familiares como empresas e passam a dominar também parte da cadeia da semente da soja, conta o produtor Evandro Guerra. Com dois irmãos, ele cultiva 1,6 mil hectares em Abelardo Luz. A fazenda é administrada pela Agrícola Guerra. Para ficar com parte da renda da produção de sementes, a família montou outra empresa, a Bellum, que tem instalações na mesma área, mas contabilidade separada. Mesmo quem produz sementes em Santa Catarina gasta o equivalente ou até menos que o valor médio desembolsado no Paraná e no Rio Grande do Sul, conforme o agrônomo Júlio Pias Silva, gerente da cooperativa C. Vale em Abelardo Luz. Quando a colheita é destinada às sementeiras, o ciclo precisa ser milimetricamente controlado, para que os grãos tenham desenvolvimento perfeito e saiam das lavouras com alto potencial de germinação, valendo 10% mais que a produção vendida às indústrias de óleo e farelo. O executivo conta que a estratégia de compras da C. Vale limitou o custo operacional por hectare de soja a R$ 700 e o de milho a R$ 1,5 mil. As despesas, entretanto, podem se igualar às dos paranaenses e gaúchos, se considerada a remuneração pelo uso da terra, uma vez que um hectare agrícola vale até R$ 40 mil nos campos catarinenses, cotação só alcançada em fazendas logisticamente privilegiadas nos estados vizinhos. Fonte: Site; Jornal Gazeta do Povo, (19/10/2011).