Nem só de flores vive o agronegócio
Nem só de flores vive o agronegócio
Clair Spanhol*
O agronegócio é o sustentáculo da economia cambaleante brasileira, e tem obtido recordes de produção de grãos, ano após ano. Os números do campo são fruto da tecnologia de produção de sementes e também da capacitação do agricultor que deixou de ser o lavrador do século passado para ser o empresário rural. Esse trabalhador conduz a lida no campo com planejamento, coordenação de ações e acompanhamento técnico diário. Muito do crescimento do agronegócio se deve ao apoio técnico e agronômico das cooperativas. Além de mais organizado, com números exatos dos investimentos, o produtor rural tem hoje clareza de custos e definição de metas de produção.
O mercado tem boa aceitação e os preços são atrativos, porém os custos de produção e o monopólio das sementes e dos defensivos agrícolas são problemas a serem superados pela indústria brasileira, que não consegue tecnologia própria para competir com as gigantes internacionais.
Ocorre que no Brasil de hoje, onde as denúncias são tidas como verídicas, e expostas nos veículos de comunicação de forma a provocar sensacionalismo, e elevar a audiência pelo furo de reportagem, criando a cada dia cria um “herói”. E isso tem provocado gravíssimos prejuízos ao setor de carnes no mercado internacional.
As consequências das atitudes de empresas envolvidas em casos de corrupção e de desvio de conduta quanto aos cuidados sanitários, provocaram nos mercados um sinal de alerta de que os entes fiscalizadores não estão sendo suficientes para garantir a qualidade dos produtos a serem consumidos em seus países. Diante desse cenário, esses mercados reticentes elevaram as barreiras sanitárias, intensificaram fiscalizações e condições para a aquisição da carne brasileira.
A operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal, desnudou um fato criminoso que poderia ter sido resolvido internamente e gerado minimamente estragos na imagem do Brasil como produtor de carne. Com o mercado internacional fechado ou restritivo à carne bovina, a saída foi intensificar o mercado interno, provocando assim uma avalanche de prejuízos à cadeia produtiva de outras proteínas, como exemplo o frango.
O frango é fonte de renda, empregos e divisas para os entes federativos, principalmente nos municípios interioranos onde grandes indústrias não se instalam. Além de o mercado europeu ter se fechado para esse produto, elegendo a Salmonela como vilã da história, é nítida a reserva de mercados para outros produtores mundiais.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, tem se empenhado para a reabertura desses mercados e não tem encontrado respostas positivas. Ao se confirmar essas restrições estaremos vivendo um momento de muita apreensão, desemprego e quebradeiras de muitas empresas produtoras de proteína animal, especialmente os produtores de frango.
Os preços em elevação do milho e da soja - que formam a base para a nutrição animal-, o mercado interno restritivo e saturado, além das dificuldades de abertura de mercados importadores, pressionam os preços para baixo provocando um cenário de preocupação onde nem tudo são flores. Muito pelo contrário, a crise que emana dessas ações retro-mencionadas colocam o setor num ambiente de espinhos que já apresenta sinais de desemprego, desaceleração de investimentos e um incalculável prejuízo de lesa pátria provocado pelo sensacionalismo de algumas pessoas e ou instituições.
*Clair Spanhol é presidente da Fetracoop e do Sintrascoop
Post Mario de Gomes – assessoria de imprensa
Em 23/04/2018
Foto: arquivo Fetracoop